terça-feira, 27 de agosto de 2024

Agulhas

 O clima estava quente, primavera tomada por El Nino .

Na ânsia de chegar acelerava e uma pequena parte de mim  dizia :  não vá isso dói.

Busquei me distrair desse pensamento pois sabia que mesmo doendo era nescessário e urgente.

O lugar não era bonito. 

Um prédio comprido de três andares, a cor da fachada um vermelho queimado que lembrava o vermelhão que se usava no chão antigamente.

Na entrada dois simpáticos seguranças vestidos de terno preto, meio sentados em seus banquinhos apreciando o vai e vem dos carros. 

Quase nunca se via pedestres.

Na recepção cadeiras enfileiradas , três guichês e atendentes sempre sorridentes .

Na primeira vez pensei que seria tranquilo pois eu estava bem, pelo menos era o que eu acha.

Para minha surpresa as agulhas me mostraram o qto não estava bem.

Chorei um choro sentido, contido e descontrolado ao mesmo tempo

Como quem ouvia lá no fundo vozes dizendo ENGOLE O CHORO!!

Engoli.  Calada não pude conter as lágrimas que transbordavam .

Qtas vezes já não foi assim antes.

Na infância sempre tinha que engolir o choro

Na quarta vez do tratamento, cheguei antes do horário. Os seguranças lá me olhando estacionar, pareciam dois bonecos estáticos.

Me perguntei será que eles teriam coragem de enfrentar alguma ocorrência desagradável?

Enfim. Depois de pegarem minha ficha eu aguardei. Logo um rapaz veio com uma ficha até o guichê questionar o nome se estava certo.

Eu ri certamente era o meu nome, Adalziza.

Levantei a mão como sempre.

O atendente que na semana anterior já tinha feito essa pergunta, prontamente diz que estava certo sim e aponta em minha direção

Ela está ali , aquela senhora.


Ele era jovem, antes dos trinta 

Usava jaleco branco e máscara preta. Tinha um nariz grande e para fora da máscara . 

Não o julgo , eu faria o mesmo.

Sorridente, simpático e gentil.

Td isso para esconder o sofrimento que ele sabia que as 18 agulhas me trariam.

É muito estranho olhar nos olhos de um desconhecido que lhe sorri para encorajar e as lágrimas escorrem. Como um rio que foi forçado a seguir outro caminho.

A sala não era grande mas havia 10 box separados com meia parede de alvenaria e o restante em vidro.

Eu sempre entrava olhando curiosamente as pessoas.

Eu era sempre a mais jovem.

Antes dos 50 será que ninguém tem dores? Ou será que se deixa pra depois? 

Depois das perguntas do rapaz para mapear os alvos eu deitei

Era uma maca no fundo da sala , tudo era simples.

Olhava para o teto com revestimento antigo e a canaleta dos fios aparente.

Ele foi certeiro com as agulhas.

Tirou de mim gemidos de dor, desespero, suor e raiva.

Senti raiva da dor.

Chorei.

Pensei em pedir para parar! 

Mas calei.

Sabia que o vir a tona tbm é bom.

Ele com um olhar generoso acariciando suave um pedacinho do meu antebraço, disse :dói um pouco mas vc vai ficar bem.

Ali ele me deixou chorando em silêncio.

A raiva que vinha trazia lembranças , momentos, pessoas e eu .

Sim raiva de mim 

Me senti frágil e raivosa como um cão que foi maltratado e rosna para se defender mesmo não tendo muita força

Vi na minha mente essa imagem, um cachorro com os dentes a vista pronto pra se defender , mesmo estando muito machucado.

Assim eu vivi por muitos anos um cão raivoso.

Os músculos criaram memória de rigidez e assim eles se contraem e ao menor estress doem, me acostumei 

Escolho sempre sorrir alto e ver o lado melhor a mais fácil das coisas

Mas com18 agulhas percebi que há lixos embaixo do tapete..

O barulho do ventilador, o silêncio da sala e a lágrimas que escorriam .

Um solucar silencioso como o que vc chora no choveira pra desabafar sem ninguém ver

Na acupuntura é isso o fígado mexe  com a raiva ,músculos e articulações e olhos .

As lágrimas são realmente limpeza do organismo.

Hoje tomo consciência que tive que me tornar forte abrutalhada para para suportar os desafios dores da vida. Mas sim, nasci com uma alma sensível e delicada  para as artes, a vida e a natureza .

Fui treinada a me defender . Cheguei a um ponto que já não sabia de quê ou d quem

Eu Analiso me perco e me encontro dentro de mim

Lais

 O que você podia ver  era uma janela e ela olhava  para o céu e as estrelas como quem estivesse num balcão olhando a noite estrelada admirando cada uma das estrelas... mas na verdade dessa posição que ela podia ver era  apenas quatro ou  cinco estrelas e  um pequeno pedaço de ceu.

Lais nesta noite decidiu sentar a luz de uma vela , olhar para o céu buscando alento. A vela que havia comprado a quase um ano ainda estava na metade. Guardava para os dias tranquilos e aconchegantes.

Neste dia se deu conta que esses dias foram poucos. A vela que estava   em um recipiente de vidro tinha um pavio grosso, uma chama forte e trêmula por conta da brisa suave que entrava pela pequena fresta da janela de vidro. Lá fora a vista era de  um telhado da casa vizinha, a uns 3 metros. Depois um pedacinho de outro telhado e a diante as caixas d'água de outra casa. Ainda do lado esquerdo um pouquinho de um prédio que dividia espaço com o pouco de céu que se podia ver, ou seja , o olhar era grande mas a vista pequena.

Assim era a vida de Lais.

Lais tinha imensa gratidão por estar viva e saudável. Por isso que olhava essa fresta de céu como se estivesse deitada na grama da sua infância , onde podia ver centenas de estrelas , mesmo em noites de lua cheia .

Lais olhava a chama da vela, sua dança suave e a sombra dos objetos na parede. Desde criança essas sombras a encantaram, nasceu artista, via beleza onde outros não viam. A luz d vela talvez fosse o resgate,   à luz da lua cheia que fazia sombra e denunciava onde estavam escondidos os amigos nas brincadeiras de esconde esconde.



Lais nascera no sul do país, lugar de muito frio no inverno Nunca sentiu frio lá, seu coração congelou qdo saiu de lá. Qdo deixou seu primo amor no sul e foi levada ao sudeste .


Para quem nasceu na roça nada mais natural que seu animal de estimação fosse um cabrito. Poderia ser um cavalo ou uma galinha mas não.

Bito era branco e preto, companheiro de todo dia . Todas as manhãs Bito se deitava diante da porta e esperava sua amiga Laís. Quando ela finalmente aparecia Bito se levantava e saia correndo e ia ao encontro daquela menina magrela e sorridente. 

Ela sorria com o coração ao ver seu amigo. Ela o abraçava com quem tivesse uma saudade de meses , isso acontecia todas as  manhãs.

Ali começava a brincadeira de correr e dar trombadas. 

Subiam e desciam dos troncos de árvore caídas no caminho da roça.



Vencida pelo cansaço do dia Laís decide ir pra cama.

Levanta-se dá poltrona, com a tampa do recipiente da vela em mãos abafa a chama . Veja, fogo sem ar apaga. Ela sorri com isso e pensa que forma charmosa de se apagar uma vela.

Então Laís abre a janela coloca a  cabeça para fora , encara o céu e mais algumas estrelas. Se sente privilegiada por ver e ter uma vibração no peito que a faz sorrir sempre diante das estrelas.

Fecha a janela a vai para seu quarto....



City

 O quarto era pequeno pouca mobília. Td muito simples, um pouco antigo . Lembrava aqueles quartos de hotel no Brooklin em nova York. Um ambiente sem graça, como que se fosse feito para quem pretendia apenas ficar por um tempo e depois se mudar para outro lugar. Lençóis já desgastados, porém limpos e perfumado.

O armário de apenas duas portas ficava ao lado direto da cama. O espaço era suficiente para abrir aporta do armário. Do outro lado uma mesa de cabeceira e aos pés da cama um armário de parede onde o nicho denunciava o gosto por livros e perfumes.

O móvel maior ocupava quase todo o ambiente. Sim, a cama .

Neste dia ele entrou e se deitou de bruços.

Ela pretendia ainda continua a conversa que estavam tendo na lanchonete e por todo o caminho.

Se tinha uma coisa que ela gostava era de conversar.

Soraia era sempre agitada , sorridente e adorava tecer longas conversas. Se fossem regadas a vinho eram basicamente sem fim.

Nesta noite ele pediu.

Vem cá, deita aqui.

Como quem diz , não fala mais nada. Antônio era mais quieto, muitas vezes mais ouvia do que falava.

Tinha a barba cheia no cavanhaque e depois raleava até chegar na costeleta. O cabelo castanho cortado a máquina. Os olhos vividos , cílios longos, o que fazia com que ele tivesse um brilho a mais no olhar. Sobrancelha farta e nariz típico dos árabes

Soraia adorava o nariz dele, ficava por muitas vezes olhando admirando, olhos, nariz e sobrancelha.

Atendendo ao pedido de Antônio ela se deitou feito um gato buscando aconchego.

Ele a abraçou e puxou para ainda mais perto.

O perfume que ele usava era amadeirado, intenso e elegante.

Ela encostou o rosto para sentir o perfume.

Antônio virou e beijou seu rosto depois os lábios. Ele era sempre carinhoso, com um ar mais romântico.

Ela retribuía, mordida seus lábios e fugia provocando o desejo de Antônio, que a trazia para ainda mais perto a beijava com voracidade.

As mão que acariciavam os corpos. Por dentro um calor.

 A distância trazia calmaria mas tbm saudades.

Antônio puxou a camiseta de Soraia deixando a barriga e os seios a mostra , beijo a barriga docemente.

Ah mas ele sabia que o que gostava era que beijasse e mordesse as costas. Então ele a vira de bruços de surpresa. Ela ri.

Os beijos na altura da cintura. Logo Antônio abre o feixe da langeri e continua percorrendo cada centímetro com seus beijos úmidos . Ele sabia e como sabia que isso causa nela outra umidade.

Retirou a camiseta e chegou ao ponto de vulnerabilidade a nuca.

Beijos, leves mordidas e a textura da barba, faziam Soraia se arrepiar.

Seu corpo se movimentava de forma sinuosa, desejosa seu quadril provocava Antônio.

Juntos tiram a calça de moletom que ela usava. Ela fica deitada de bruços esperando que ele volte continue por cima e beijando sua nuca. Enquanto ele tira a própria roupa admira suas curvas...

Voltou e continuou de onde parou.

Logo depois os corpos ficaram largados lado a lado , ofegantes e corações acelerados. 

Soraia busca mão de Antônio e a acaricia suavemente, olhando esse movimento ela sente uma alegria e Td o que queria era o aconchego dos braços de Antônio. Já havia se passado algumas semanas desde o último encontro.

Ela não queria um relacionamento sério, dizia ter desistido dessa chatice.

No fundo era medo de mais uma vez se decepcionar e ter os sonhos quebrados como um prato em festa grega. Juntar os pedaços da muito trabalho. Preferia então estar livre e distante para garantir que estaria protegida.

Naquela noite Soraia só queria se sentir protegida nos braços de Antônio. Então ela busca o braço que estava ali estirado . Deita sua cabeça no braço ficando de costas para Antônio. Ele automaticamente se vira e se encaixa para abraçar e acariciar.

Os encontros eram especiais e intensos. Ficavam longe passavam dias sem se falar. Cada um focado em sua própria vida . Mas a saudade era um fato....




Quando a tristeza chega

 Hj a tristeza veio visitar no meio da tarde .

Veio com texto e lembranças

Com aperto no peito e muitas lágrimas.

A garganta um nó. Tensiona e logo vai para a nuca e dispara um choque para o couro cabeludo.

Dá medo do que pode causar no couro cabeludo.

Rezo para que não aconteça nenhuma somatização que meu corpo se recupere em paz.

Me sinto deslocada no tempo.

Sempre converso com o a parte de mim que tá triste.

Afinal não dá pra ter alguém pra conversar, disponível 24 horas. Nunca se sabe qdo a tristeza vem.

Converso em voz alta, assim ajuda a movimentar o maxilar, ele tbm dói qdo a garganta e pescoço ficam tensos.

É um circuito, garganta, pescoço, nuca, couro cabeludo , têmporas e maxilar. E sim o ouvido arde.

A acupuntura tem ajudado muito.




Carolina

 Depois de dormir por 11 horas Carolina se levanta sentindo um bem estar e descansada.Nos últimos dois meses,  a vida trouxe alguns desafios.  Entre eles a saúde da  mãe.

Levantou imaginando que fosse 10:00, olhando para o celular se deu conta que já eram 15:30!

Tinha um compromisso. Foi para o chuveiro, a água quentinha na nuca trazia conforto e aconchego. Ela sentia com toda atenção o barulho do chuveiro e da água que caia. Fechou os olhos , baixou a cabeça e respirou fundo . Jogando o corpo lentamente de um lado para o outro , podia sentir a água quente de ombro a ombro 

Se tinha um coisa que Carolina gostava era sentir a água em sua pele . Pensou até em não ir, em ficar quietinha em casa. Era domingo, céu cinza e a temperatura convidava a voltar para cama. Mas não, sair e encontrar pessoas séria melhor do queficar em casa com seus pensamentos sobre tudo o que havia acontecido e os pensamentos sobre coisas que talvez nunca aconteceriam. 

Tudo o que Carolina precisava era trocar a roupagem da sua mente. Ir para a rua então, era sim, a melhor opção. 

Roupa simples, quente e confortável. Foi a escolha do dia, afinal conforto era tudo o que ela mais precisava.  Chegou já na hora dos parabéns basicamente. Na verdade isso foi ótimo. Sentiu um alívio por não ter que ficar muito tempo, seu sorriso não era natural . O assunto era apenas amenidades , as pessoas riam trazendo lembranças de algo do passado. 

Logo após ao parabéns a fulga foi imediata!

A vida estava tranquila lá fora. Rua vazia...ela entrou no carro já decidida que não voltaria para casa. Poderia ir comer algo gostoso como uma forma de carinho consigo. Como que se  colocar no próprio colo.  Anoiteceu rápido para quem acordou no meio da tarde. Dirigindo sem pressa foi para o bairro visinho onde havia mais opções. Passou enfrente a vários comércios e resolveu que na padaria seria ótimo tomar um capuccino. Conseguiu vaga a um quarteirão da padaria. A noite estava fria, subiu o zíper da blusa, saiu do carro e caminhou lentamente pela calçada...sentia-se bem pela escolha, por estar consigo, pelo silêncio. Afinal dentro da sua mente já havia diálogo suficiente.

Carolina Deu graças a Deus por encontrar a padaria quase vazia, com mesas disponíveis. 

Sentou-se de costas para o balcão. Olhando para a vidraça podia ver luzes de natal pendurada um dek com duas pessoas corajosas tomando cerveja e os carros que passaram.

Carolina queria ter a sensação de que havia acordado e tomar o café da manhã em um domingo. Era por volta das 18:00 , mas não teve dúvidas entrou decidida a ter a companhia do  capuccino e o pão com manteiga na chapa. Assim foi.

Sabores que acariciavam a alma! Silenciosamente comia, com gosto, com prazer , seu coração sorria e pensava...a quanto tempo eu não faço isso?

Sentiu o qto era importante se levar a padaria mais vezes.

Sair sozinha nunca foi um problema, pelo contrário era prazeiroso , porém nós últimos tempos se acostumou a sair acompanhada, percebeu que também era bom. 

Mas isso traz uma dependência da presença de outras pessoas para ir e vir. E se tinha uma coisa que Carolina não gostava era de depender. 

Aprendeu muito cedo a se virar sozinha. Se vc quer, então vá lá e faça não espere. Essa era uma das frases que ouvia da mãe na adolescência. A mãe que trabalhava pra ajudar no sustento da família tinha pouco tempo para dar atenção e mimar. 

Carolina sempre se lembrava, com orgulho de si mesma, a primeira vez que acendeu o fogo do fogão com fósforo e fez a sua fritada de salsicha. Ela já tinha pedido a mãe por duas vezes, para fritar, a mãe pediu pra esperar terminar o trabalho de costura que estava fazendo.

A mãe se assustou quando sentiu o cheiro foi correndo ver . Não brigou , apenas perguntou quem acendeu o fogo... Carolina aos 8 anos respondeu orgulhosa , eu que acendi...ali estava uma criança que faria por si o que fosse preciso. 

A mãe sempre soube que não teria que se preocupar muito com ela. Carolzinha era braba, decidida e independente. Gostava de brincar com as outras crianças, porém gostava ainda mais sozinha com seus brinquedos. Carolzinha estava sempre cantarolando canções que ouvia no rádio Jessé, Giliarde, Nelson Gonçalves...Era uma menina magrela , cabelo crespo  bem curtinho. Na verdade mais parecia um menino. Tinha sempre um sorriso nos lábios, porém no coração uma grande saudade....


Hoje adulta o sorriso fácil é o mesmo, as dores e saudades foram mudando no decorrer e vida.

Então saboreava o seu pão com manteiga e capuccino, Carolina olhava absorta pela vidraça .  era novembro e seu mundo estava em chamas, o que seria da vida dela dali pra frente? 

Olhos começara a marejar, o nó na garganta e , respirou fundo algumas vezes, conseguiu conter o mar dentro de si. A padaria começou a ficar lotada rápido. Na mesa do lado sentaram se duas irmãs de idade entre 50 e 55 anos. Barulhentas, o falatório era sbre amigo secreto e seia de natal. As duas eram confusas não se entendiam , a cesta com pacotes pães sacolas guarda-chuva. Pouco espaço para muitos objetos..

Antes que uma delas colocasse o pão no chão Carol ofereceu a cadeira vazia de sua mesa . 

As irmãs ficaram felizes, agradeceram e pediram desculpas por atrapalhar a refeição e por tirar o sossego. 

Ela só sorriu, não quis dar mais brecha pra conversas.

Logo foi embora o que ela precisava era de silêncio.

Andando a passos lentos, mãos no bolso olhando para o chão, pensava, preciso cuidar da minha mãe, preciso trabalhar, preciso ter calma, preciso de ajuda pra pensar e não sei a quem pedir. 

Lágrimas molharam seu rosto, discretamente secou e apertou o passo. 

Dentro do carro Carolina se permitiu chorar um pouco o peso estava grande mas o que ela já previa é que teria que engolir o choro ainda por muitos dias.


Sentimento de nem sei

 A casa estava com aspecto normal.

Os móveis de tamanho normal. Os objetivos em seus devidos lugares.

Parecia até que a casa estava maior. Que tinha mais espaço ente os móveis.

A verdade é que a minha mente estava mais tranquila e organizada.

Ainda tem sentimentos aqui dentro pra organizar , não sei em que departamento colocar. As vezes acho que é tristeza, medo, desespero,raiva ou solidão. Mas não. Não se enquadra. É um sentimento de nem sei. É assim que tenho chamado algo que não sei definir.

Depois da morte da minha mãe me sinto assim , nem sei.

A 3 mesmo atrás tive desespero ao pensar que, o que eu nunca aceitei nem se quer pensar, poderia realmente acontecer. Um dia ela partir.

Chorei e senti a impotência diante da vida . 

Ela estava tão diferente mudando rápido, e eu não queria que fosse verdade. Mas me pus a olhar o que estava acontecendo. Minha mãe, tão frazina, pequena, de caminhar lento e cansado.

Chorei por dias. Chorei com amigos em desabafo. Chorei sozinha... chorei alto na estrada!

De coração apertado eu trabalhava e fazia o que tinha que ser feito.

Os músculos tensos, o maxilar doendo...entre idas e vindas a casa da minha mãe eu comecei a perceber que o caminho era de partida...tive medo! 

Medo de como eu viveria a solidão da ausência dela. Chorei!! Solucei!! Segui fazendo o que tinha que ser feito

A 2 meses atrás, por fim aceitei que cada dia seria menos um dia. 

Eu só queria que ela estivesse bem, que tivesse atenção e cuidados devidos.

A um mês atrás eu me encontrava indo ao médico com ela por conta dor e o inchaço que não passava .

Suplemento para ajudar com o apetite e várias outras coisas.

Meu foco é a mãe. Isso que eu dizia para meus irmãos.

3 , 4 horas de estrada pq o foco era a mãe.

A doze dias atrás foi o seu velório.

A mãe , a minha mãe ficou 17 dias internada.

Eu e meu irmão nós revezamos para não deixar ela sozinha.

Dia e noite ficamos ali para ela não se sentir sozinha nem abandonada.

Fui vendo ela piorar dia após dia.

Qdo voltei para o hospital estava decidida a saber toda a verdade do estado dela.

Meu irmão voltou pra sp pra trabalhar um pouco e eu fiquei com ela. Segurando a sua mão.

As vezes ela ficava com o olhar perdido eu entrava na frente dela e dizia mãe eu tô aqui viu .

Ela ficava inerte , gemia baixo o tempo todo.

As vezes alto , de certo era qdo a dor aumentava.

Eu impotente só podia acariciar, olhar nos olhos e dizer fica calma eu tô aqui, a senhora não tá sozinha.

Eu chorava, mas tentava não deixar ela ver.

Um dia perguntei para o médico, me fala por favor o estado real dela.

Estágio terminal ele respondeu.

Não sabemos qdo mas está próximo.

Meu peito apertou e ali se fez um buraco. A cabeça parecia que ia sair rolando, fiquei tonta e quase vomitei.

Chorei, conversei com o médico sobre tudo o que ia acontecer dali pra frente.

Eu fiquei com ela , acompanhei seus últimos dias. Até o momento que eu entendi que não estava mais ajudando e sim atrapalhando.

Por amor deixa partir, o médico me disse.

Eu cheguei no limite da psiquê, no limite físico. Decidi sair do hospital, 

Qdo decidi isso senti como que se houvesse um corte no meu peito de algo que me ligava a ela. Eu estava prendendo ela , dificultando a passagem.

Eu fiquei fazendo companhia e vendo ela morrendo por amor e lealdade. Não pude mais ficar qdo entendi que eu iria adoecer.

Entendi que aqueles dias tbm eram para que eu pudesse, ver, entender e aceitar o ciclo da vida

Se fosse de uma vez eu nem sei o que seria de mim. Deus em sua sabedoria me permitiu estar com ela viver esses dias e dizer o qto eu aprendi com o exemplo dela , sobre o meu amor e gratidão por poder ser filha dela .

Sei que vou seguir sem ela... 

Agora em casa observando td os meu redor 

As plantas que sobreviveram estavam se recuperando lentamente.

Exceto uma, a maior , a mais importante, a que já vinha de muitas histórias. 

Ela que já tinha perdido suas folhas enorme uma vez, ela que já tinha sofrido com conflitos e mudança.

A cada folha amarela depois de ter trocado toda a terra, 20 kg de terra, era será que ela vai sobreviver.?

Será que esse ciclo tbm vai se encerra?

Será que é só uma renovação das folhas?

Decidi ficar observando e cuidando. Pronta para aceitar o que for. 

Cantareira

 Livro pensando na cantareira 

O lugar é charmoso e aconchegante.

As mesas são de Madeira clara, um tom meio amendoado, disposta   para 4 ou 6 pessoas. Vigas de sustentação no meio do salão e são da mesma cor das mesas . No   o teto tbm em vigas . Toda a madeira em tons próximos o que cria um ambiente de muita elegância 

Não há paredes de concreto, tudo em vidro para se poder apreciar o grande espetáculo das árvores lá fora. A luz difusa que vem de fora torna o ambiente especialmente envolvente

Na altura que estou vejo  a copa das árvores e elas seguem até o horizonte. Vejo os múltiplos tons de verde e suas formas ... não me acostumo nunca , sempre me emociona a natureza.

Sentada em uma mesa de 2 lugares,  com apenas um ocupado, vejo as pessoas nas outras mesas. Casais, amigos, famílias. Adoro olhar pessoas!

Do outro lado do salão na minha frente um homem de uns 60 anos, cabelo louro escuro, curto , e desordenado.  Com uma rala franja que tenta inutilmente esconder as entradas da calvície 

 camisa azul escuro fosco, . Na mão esquerda faixas e uma tala no indicador. 

O que teria apontado esse pobre homem para ter seu dedo ferido?

É esse tipo de coisa que fico pensando enquanto observo as pessoas.

O vento forte anúncia a chegada de nuvens carregadas.

A chuva forte batendo em todos os vidros me dá uma grande alegria.

Eu sempre fico feliz quando vejo a chuva forte , o vento que balança as árvores. Lembro de qdo eu era criança e imaginava poder voar entre as árvores que se curvam , balançando de uma lado para o outro... sem resistência alguma, vivem com sabedoria o mau tempo.

Penso que  a vida tbm tem o mau tempo. Eu vc e todo mundo já viveu um mau tempo.

Eu não soube humildemente me curvar as circunstâncias.

Ter jogo de cintura de balançar de um lado para o outro e sucumbi a força do mau tempo que eu atravessava.

Me manti dura e resistente.

Quebrei no mau tempo.

Fui dura comigo, resisti a mudança.

Não olhei a volta e entrei no buraco.

Escuro e fundo...

Senti toda a fragilidade do carvalho pretensioso. 

Não tinha olhos para a sabedoria do bamboo.

Pensava que tinha que ser sempre forte . Pensava ser uma heroína dessas de filme, doce ilusão.

O excesso de trabalho, de preocupação, de atividades, de frustração. O medo, a tristeza, a incerteza, o peso nas costa que antes achava leve me fez ajoelhar.

Me rastejei no solo árido do meu orgulho. Os joelhos sangraram. 

Em silêncio engoli o choro.


 

Bistrô

 Andando pelas rua o intuito era apenas um passeio, uma volta de carro para matar o tempo e distraídas emoções.

Encontrei o melhor lugar pra hj

Um bistrô charmoso na Mooca.

Não tive dúvidas estacionei na porta e entrei com o olhar curioso de sempre.

Por acaso era como eu precisava, tranquilo sem barulho, música suave, poucas pessoas.

Devidamente recebida, escolhi uma mesa próxima a área externa onde entrava uma luz difusa encantadora.

Pequeno apenas seis mesas.

 No ambiente resoava as mais deliciosas musicas francesas, Edit Piaf com alguns interpretes, jazz...e olha só música cigana só instrumental, eles servem paella entao faz total sentido. Nada é por acaso. Eu achei um presente da vida para o dia de  hj.

Sai com a minha saudade em companhia.

 Sai com meu aperto no peito.

Com lágrimas represadas.

E mesmo assim buscando olhar para vida.

Para a beleza de um dia cinza, para o friozinho na pele, para o sol  que não  aquece mas ilumina.

A luz tênue  e amarelada do ambiente traz um delicioso aconchego, mesmo tendo suas paredes, em azul marinho chamuscado de preto. 

A luz difusa da janela vitrine e do fundo com teto aberto faz do ambiente aconchegante e requintado

Nada de comida francesa . Pedi bobó de camarão pra sair da rotina.

E meu Deus, estava divino!


31/05/24






Chuva fina

 E a chuva era tão mansa, fazia barulho no telhado.

A porta da cozinha estava aberta , Marlene podia ver o pequeno telhadinho que protegia a porta, era cinza e tinha telhas onduladas e uma lâmpada pequena com luz suave. Já era tarde da noite. 

A água da chuva escorria nas ondulações do telhado fazendo como se fosse uma cortina de fios prateados. Sabe daquelas de missanga que se usava nos anos 80?

O vento mudava o curso dessa água era encantador aos olho de  Marlene que desde criança adorava ficar olhando a chuva.

Quanto mais forte, com vendaval, raio e trovões mais ela ficava fascinada. 

Sua mãe morria de medo de chuva!  Dizia que era por que quando morava na roça no Paraná , cada vez que chovia tinha goteira na casa toda e se tinha vento forte o medo era de que o vento levasse a casa .

 Casa de pau a pique , casa de madeira e barro... imagino o tamanho do medo...e proteger os filhos...e não deixar molhar as coisas, as poucas roupas que tinham , o colchão de palha de milho...

Marlene via nos olhos da mãe e desespero toda vez que chovia.

Mas ela não! Ela queria sair para o meio do quintal e estar no meio da chuva, olhar de perto o vente envergando as árvores, desde criança via nisso o poder incontrolável da natureza.

Talvez não tivesse medo por que sua mãe a protegeu muito bem.

Não deixou o medo dela virar medo dessa criança. Aos cinco anos mudaram de estado e passaram a morar em uma casa de alvenaria 

Dona Amélia tinha um grande sonho ter a sua casa de tijolos.

Ela sempre ouviu a mãe dizer isso...

Enquanto olhava a chuva caindo ela se  lembrava de quantas broncas e puxões de orelha já tinha levado por chegar em casa toda molhada de chuva quando saia da escola.

Essa lembrança sempre trazia um sorriso. Dona Amélia nunca soube que Marlene andava na enchorrada da rua como quem enfrentava um rio bravo. Pura imaginação de criança.

Com a porta aberta, o vento, o chão da cozinha ficou molhado.

Se minha mãe estivesse aqui eu já iria tomar uma bronca, fechar a porta e secar o chão.

Os olhos de Marlene ficaram marejados e logo lágrimas silenciosas escorreram.

Dona Amélia não estava em casa já a um mês e meio. 

E pensar nisso deu um aperto no peito de Marlene, uma dor física!

Era o dia do aniversário de 81 anos de Dona Amélia e ela não estava em sua tão querida casa de tijolos.

Estava em uma casa de repouso 


08/01/24



sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Pingente

Você bem que podia ser um pingente.
Te levaria pendurada no meu peito,
ao alcance das minhas mãos.
Te protegeria do mau tempo, do frio , do sol de verão.
Gostaria de poder ser egoísta e te levar comigo.
Você seria o meu sol, em manhãs de domingo.
A brisa sorridente.
O pulsar de vida em minhas veias!
Mas não posso te privar de viver,
de sorrir seus sorrisos,
de cantar suas próprias canções.
Não posso te privar de sonhar seus sonhos.
Posso guardar na lembrança o teu trajeto,
nessa linda historia da sua vida.
Posso olhar e te acompanhar,
ver a beleza dos anos que passam,
sorrir suas alegrias e consolar suas tristezas.
Neste mar de sentimentos, amor e gratidão.
Sou grata pelo presente da sua vida junto a minha.