O clima estava quente, primavera tomada por El Nino .
Na ânsia de chegar acelerava e uma pequena parte de mim dizia : não vá isso dói.
Busquei me distrair desse pensamento pois sabia que mesmo doendo era nescessário e urgente.
O lugar não era bonito.
Um prédio comprido de três andares, a cor da fachada um vermelho queimado que lembrava o vermelhão que se usava no chão antigamente.
Na entrada dois simpáticos seguranças vestidos de terno preto, meio sentados em seus banquinhos apreciando o vai e vem dos carros.
Quase nunca se via pedestres.
Na recepção cadeiras enfileiradas , três guichês e atendentes sempre sorridentes .
Na primeira vez pensei que seria tranquilo pois eu estava bem, pelo menos era o que eu acha.
Para minha surpresa as agulhas me mostraram o qto não estava bem.
Chorei um choro sentido, contido e descontrolado ao mesmo tempo
Como quem ouvia lá no fundo vozes dizendo ENGOLE O CHORO!!
Engoli. Calada não pude conter as lágrimas que transbordavam .
Qtas vezes já não foi assim antes.
Na infância sempre tinha que engolir o choro
Na quarta vez do tratamento, cheguei antes do horário. Os seguranças lá me olhando estacionar, pareciam dois bonecos estáticos.
Me perguntei será que eles teriam coragem de enfrentar alguma ocorrência desagradável?
Enfim. Depois de pegarem minha ficha eu aguardei. Logo um rapaz veio com uma ficha até o guichê questionar o nome se estava certo.
Eu ri certamente era o meu nome, Adalziza.
Levantei a mão como sempre.
O atendente que na semana anterior já tinha feito essa pergunta, prontamente diz que estava certo sim e aponta em minha direção
Ela está ali , aquela senhora.
Ele era jovem, antes dos trinta
Usava jaleco branco e máscara preta. Tinha um nariz grande e para fora da máscara .
Não o julgo , eu faria o mesmo.
Sorridente, simpático e gentil.
Td isso para esconder o sofrimento que ele sabia que as 18 agulhas me trariam.
É muito estranho olhar nos olhos de um desconhecido que lhe sorri para encorajar e as lágrimas escorrem. Como um rio que foi forçado a seguir outro caminho.
A sala não era grande mas havia 10 box separados com meia parede de alvenaria e o restante em vidro.
Eu sempre entrava olhando curiosamente as pessoas.
Eu era sempre a mais jovem.
Antes dos 50 será que ninguém tem dores? Ou será que se deixa pra depois?
Depois das perguntas do rapaz para mapear os alvos eu deitei
Era uma maca no fundo da sala , tudo era simples.
Olhava para o teto com revestimento antigo e a canaleta dos fios aparente.
Ele foi certeiro com as agulhas.
Tirou de mim gemidos de dor, desespero, suor e raiva.
Senti raiva da dor.
Chorei.
Pensei em pedir para parar!
Mas calei.
Sabia que o vir a tona tbm é bom.
Ele com um olhar generoso acariciando suave um pedacinho do meu antebraço, disse :dói um pouco mas vc vai ficar bem.
Ali ele me deixou chorando em silêncio.
A raiva que vinha trazia lembranças , momentos, pessoas e eu .
Sim raiva de mim
Me senti frágil e raivosa como um cão que foi maltratado e rosna para se defender mesmo não tendo muita força
Vi na minha mente essa imagem, um cachorro com os dentes a vista pronto pra se defender , mesmo estando muito machucado.
Assim eu vivi por muitos anos um cão raivoso.
Os músculos criaram memória de rigidez e assim eles se contraem e ao menor estress doem, me acostumei
Escolho sempre sorrir alto e ver o lado melhor a mais fácil das coisas
Mas com18 agulhas percebi que há lixos embaixo do tapete..
O barulho do ventilador, o silêncio da sala e a lágrimas que escorriam .
Um solucar silencioso como o que vc chora no choveira pra desabafar sem ninguém ver
Na acupuntura é isso o fígado mexe com a raiva ,músculos e articulações e olhos .
As lágrimas são realmente limpeza do organismo.
Hoje tomo consciência que tive que me tornar forte abrutalhada para para suportar os desafios dores da vida. Mas sim, nasci com uma alma sensível e delicada para as artes, a vida e a natureza .
Fui treinada a me defender . Cheguei a um ponto que já não sabia de quê ou d quem
Eu Analiso me perco e me encontro dentro de mim